terça-feira, 2 de setembro de 2008

Uma crônica?


"Se tudo eu tivesse que simplificar, eu ficaria com os olhos. Aprendi a aprecia-los desde muito cedo. Nos olhos é possivel desvendar a alma. Através dos olhos é possível mergulhar no âmago. Acredito que eles constituem a parte exposta do coração, mostram, mesmo sem querer, o que pulsa do lado de dentro.

Me encantei por um par e olhos que vi, olhos fascinantes, cujo brilho ainda não consigo explicar. Eram olhos delicados, puros, ocultos... que envolviam-me, convidando-me a revela-los.

Não foi preciso palavras, não foram necessários gestos pois o simples encontro de dois olhares perdidos naquele exato momento, foi o suficiente para iniciar uma história..."


Do que se trata o texto? Subjetivo demais? Seria mais uma história de amor? Ou então de um texto sem nexo que algum desocupado decidiu escrever? E se pudéssemos colocar-nos nele, e se ele se referisse a nossa vida diária? Faria mais sentido? Seria dificil acreditar? A viagem cansativa de um metrô lotado de um ser humano comum, voltando de mais uma jornada de trabalho... E se o texto fosse um reflexo do que não enxergamos nesse percurso? Quantas pessoas passam por nós, e na insanidade da individualização do mundo contemporâneo, nem ao menos notamos a existência delas...é falta de tempo? É falta de amor! Acostumamo-nos a pensar e viver no óbvio, ou simplesmente deixar de fazê-lo. Vivemos dia após dia sem sequer dar-nos conta de que existe vida fora do nosso próprio eu, atrofiando inconscientemente o que para a maioria de nós, é dado desde o nascimento... algumas pessoas conseguem fazer contato desde muito cedo, outras passam uma vida inteira sem conseguir estabelecer uma digna comunicação. Afinal de contas, não há tempo para mais nada, o mundo não pode parar por conta de relações interpessoais.

E se esse ser humaro estivesse cansado de enxergar simplesmente o que lhe esfregam em sua cara? E se ele quisesse mais? Se por um instante ele olhasse a sua volta e percebesse a beleza que os olhos de muitos de nós é incapaz de ver, se ele quissesse ver a essência... o que veria? Olhos passeando entre revistas, olhos fechados, olhos inquietos e talvez... olhos em sua direção?

Existem mais pessoas procurando um olhar perdido? Existem mais pessoas sozinhas no mundo? É possivel ser sozinho em um metrô lotado?

E se o olhar que ele vira fosse de alguém como ele; e se ele não tivesse coragem de iniciar uma conversa?

A única certeza que se tem é que não se pôde omitir o coração... sentimentos, o seu ponto de partida...

Mas e se voltassemos a realidade, e percebessemos que somos fúteis, que o que deixamos a mostra nos olhares quando passamos, é simplesmente a insatisfação que temos por não sabermos contemplar o que temos...

E se os olhos que nosso personagem vira fosse cego? Seria mais fácil compreender o porque estavam em direção a ele?

Eles deixariam de ser olhos? De terem sentimentos? De serem sinceros???

Cabe a nós esta reflexão...o momento para acordar e ver o mundo é agora.